O Sonhar Próximo

O Nocker divagava sobre o quão complicado era tratar com grãos de areia. Eles eram tronculentos e objetivos demais e tinham a língua muito mais suja do que qualquer Nocker Childing que ainda não houvesse vivido tempo suficiente para aprender alguns xingamentos escambrosos. Ele divaga tanto que esquece o que iria responder ao Exu ao encarar Svenn saindo das sombras, com a boca ensanguentada, acompanhado da garota. Ela também tinha o vermelho em si. Não era muito difícil fazer uma analogia tenebrosa. Por sorte, Pepe não estava ali, ou Íkkarus seria obrigado a mandar ele picotar aquele psicopata em pedacinhos antes que ele pudesse explicar a situação.

Mas Svenn chega sério e pede para falar com a Baronesa enquanto Idris poderia contar uma história a menina assustada. O Exu morde a isca e começa a tagarelar mais uma vez. Puff! O colega deixava-se levar pela emoção muito facilmente, parecia não ter aprendido com o que havia ocorrido de antemão. Entretanto, os contos eram muuuuito bons.

Íkkarus dedica sua atenção a cada uma das palavras do Exu, terceirizando a atenção aos dois fofoqueiros que se afastavam do grupo. Ele só retorna a si quando uma diferença de pressão brusca e o cheiro de marshmallows recém feitos na fogueira invade o seu entorno. Era Glamour se manifestando! Ele se vira instintivamente na direção da Sidhe e do Sluagh, como se pudesse abocanhar o ar para satisfazer sua própria vontade. A energia de ambos se expandia e envolvia os dois em uníssono; claramente algo havia sido feito ali. Mas por quê? Por causa da garota? O que ela teria contado? O que teria ocorrido para ela estar assim tão assustada? O Sluagh era horrendo, mas seria capaz de causar tamanho amendontramento?

Ariana se questiona o que ocorria e o Nocker só consegue responder:

'- Vindo de uma criatura sorrateira como essa, lady Arianna, eu temo o mínimo suspiro.'

O Eshu via um turbilhão de histórias, e, queria perguntar o que afligia a pobre alma, mas, a advertência do Sluagh o impedia.

"-Lhe levarei para seus pais pequena princesa, tens minha palavra.. Tão logo o sol venha a nascer, continuaremos nosso caminho..."

Olhando para Arianna, apenas comenta..

"-O Pequeno Svenn aparentemente gosta de suas travessuras.."

*Veremos onde elas o levarão..*

O Sluagh pega a moeda. Havia dado seu passo mais ousado desde que descobrira mais sobre quem era, e sua sorte estava diretamente ligada à sorte da Baronesa de agora em diante. Somente após o segundo juramento é que o Sluagh se ergue. Ele não era ligado aos protocolos, mas acreditava que tinha feito as duas coisas em seu juramento inicial. 

Nenhuma palavra precisava ser dita, ele já havia falado ali mais do que falaria em um dia e uma noite inteiro de uma vida comum. Mantinha sua postura com respeito, embora meio torto, já que era desengonçado e esguio por natureza. De pé, guarda a moeda consigo, com tanto apreço como guarda seu punhal ritualístico.

*Primeiros passos, Zvenn... a roda está girando...*

A Baronesa sorri maliciosamente quando o Sluagh aceita a moeda. O juramento estava sacramentado pelo Sonhar e no fundo a Sidhe estava grata em ter alguém com quem ela poderia ser ela mesma, sem tantas máscaras e fingimentos. 

Ela apenas sussurra para o Sluagh: 


"- Está preparado para grandeza? Nada ficará em nosso caminho."

A Nobre não espera uma resposta. O que estava feito, estava feito. 

Com toda a sua elegância e imponência a Baronesa caminha até aonde estavam o resto da Mixórdia e se aproxima da garota a olhando com curiosidade. Lentamente a Sidhe caminha até estar de pé diante da garota como enquanto sorri docemente e fala: 


"- Não se preocupe mais minha doce criança. Eu sou a Baronesa Evony de Eiluned, você está sob a minha proteção agora e mal nenhum recairá sobre você." 

Enquanto ela estende a mão convidativamente para a jovem, a nobre continua:


"- Peguem o que precisamos e voltemos ao caminho de prata. Já tivemos muita aventura por um dia. Venha Porco!"

A Baronesa segura a mão da menina com uma mão e com a outra ela estende uma trufa para que o Javali a siga.

Com seu sorriso macabro e seu andar desengonçado, Zvenn segue a baronesa andando alguns passos atrás da mesma. Protagonismo nunca foi algo que desejava e as palavras dela soavam como gemidos de sofrimento aos seus ouvidos. 

*Você vai ter o que quer, e eu chegarei onde quero.* - pensava enquanto caminhava sem falar mais nada. Não havia nada a ser falado e ele se mantém a dois passos de distância do resto do grupo, observando a todos com sua cara esquisita.

Arianna olha de forma confusa para Ídris, quando ele chama Zvenn de pequeno. Era estranho um plebeu chamando outro de pequeno, aquilo não tinha muito sentido em sua cabeça.

Alice demonstra uma certa esperança quando Ídris fala sobre o Sol nascer, ela acena com a cabeça e aproxima mais ainda do Eshu quando o Sluagh volta a se aproximar. Ela devia ser muito forte para estar lidando com aquilo tudo, havia seres de extremos na frente dela, alguns tão bonitos que chegavam a doer seus olhos, e outros tão horríveis que a fazia querer se urinar toda e correr. Porém, ela fica, como medo mas resiste até com uma certa dignidade.

Arianna olha para Ikkarus esperando um posicionamento dele sobre o que precisavam pegar, ela continuava atenta com seu florete em chamas.

Juramentos ao vento era algo complicado de se lidar, principalmente quando não se está acostumado com a fluidez da brisa  com a qual se lida. Zvenn era uma criatura estranha. Ponto. Uma das certezas da vida do Nocker era que ele provavelmente nunca deixaria sua vida nas mãos gosmentas e pegajosas daquele Sluagh; o ar psicótico que exalava de seus poros deixava o ambiente pesado e Íkkarus tinha sérios problemas para respirar ao seu lado. Quem em sã consciência prometeria algo e acreditaria nas promessas daquela criatura? Bem, a Baronesa parecia disposta.

A energia divergente que se converge numa só delata aos olhos do Nocker que não apenas um, mas ambos, haviam feito algum juramento. Não tinha como o jovem Íkkarus descobrir com exatidão que tipo de juramento havia sido feito devido seus parcos conhecimentos daquela sua segunda vida naquele instante (2 sucessos). Seu primeiro juramento havia sido o feito ao Conde Rodiart. Teria Zvenn jurado sua lealdade a Evony? E o que a Baronesa havia jurado ao Sluagh? Aquela conexão era muito esquisita, o que faz com que Íkkarus tenha a certeza de que deveria hesitar mais diante daquele acontecimento. Ele pensava que aquilo poderia ter relação com a tal garota que encontraram, mas sequer fazia ideia do que raios aquela bobalhona fazia no Sonhar Próximo.

*Todos tramam... todos tramam.... sobre o que? Talvez só as árvores dessa floresta saibam!!!!*

Aquilo brota uma ideia na cabeça do Nocker que, olhando para Arianna que lhe esperava, e para Idris que ali também ainda estava. Zvenn, como a criatura sombria que era, se afasta do grupo para os observar de longe. Idris precisaria de ajuda para continuar, então Íkkarus faz uma proposta a Lady Arianna.

'- Milady, creio que nosso cavalheiro de coração acelerado precise de uma ajuda... digamos que uma mãozinha para voltar ao Caminho de Prata? Você poderia auxiliá-lo enquanto eu recolho o que preciso para construir nosso refúgio?' 

Ele espera uma resposta da Sidhe.

Arianna olha ainda mais confusa ainda para o Nocker e fala de uma forma objetiva:

" - Não, não posso. Você precisa de proteção também. Faça logo o que tem que fazer e vamos juntos."

O Nocker olha para a Sidhe com um olhar de criança malcriada que tem suas asas podadas, mas apenas dá de ombros e diz:

'- Tudo bem, milady... eu vou recolher os galhos que preciso...' - ele olha para o florete flamejante e tem uma ideia, que imediatamente brota num sorriso em seu rosto: ' - a senhorita poderia utilizar seu florete para alcançar os cipos, lady Arianna? Eles serão essenciais para erguer nosso refugio!'.

Caso a Sidhe caia... digo, aceite a sugestão do Nocker, ele irá recolher os gravetos ali próximos, um por um, escolhendo cuidadosamente cada um deles. Ele aproveita o momento para afastar-se um pouco para recolher "aqueles" gravetos... aqueles que lhe dariam as informações  que tanto queria.

*Preciso de respostas...*

Esses gravetos, especificamente, são colocados no bolso do macacão do Nocker, que acaricia-os maternalmente.

*Seremos como mãe e filhos, meus galinhos queridos que me darão tanto orgulho depois que me contarem tudo o que preciso saber.... AHAHAHAHAHAHA*

Depois disso, se não fosse interrompido, voltaria para junto de Idris para seguirem mais uma vez para o Caminho de Prata.

Arianna dá de ombros para o pedido, era evidente o incomodo de ter que fazer esse tipo de serviço, apenas diz:

" - Se é pra voltarmos logo pro Caminho de Prata... "

Ela retira os cipós com seu florete que aparentemente não precisa ficar apenas em chamas, virando um florete normal, os joga no chão de forma distraída para que alguém os pegue e finaliza caminhando junto com todos para o caminho de prata:

" - Vamos. "

O Nocker recolhe todos os gravetos que precisaria. Ele se vira, então, para seguir com os outros, quando observa a silhueta da Sidhe do florete flamejante partindo em direção ao Caminho de Prata. Ela havia recolhido os cipós e reservado-os sob a relva verdejante da floresta. Ele se aproxima do monte, olha para o mesmo, olha para a Sidhe, que se distanciava, e bufa.

*Nhenhenhe… se for para voltar mais rápido para o Caminho de Prata… Nehnhenhe… isso não é um trabalho para a Nobreza… Nhenhenhe… recolha você os cipós… Nhenhenhe…*

O Nocker recolhe os cipós e os coloca sob o monte de graveto que tinha. Ele alcança o Exu, que provavelmente era o último da fila indiana que seguia até o Caminho. Tinha uma cara fechada, mas quando olha o companheiro, simula um sorriso sincero… afinal, havia alguém que estava pior do que ele ali e isso confortava seu espírito que, desde que pisara no Sonhar Próximo, ansiava por resmungar coisas ao vento.

O Eshu sentia que o Sonhar curava suas feridas de forma rápida (1 ponto a cada 15 minutos).

OFF: Recuperou um ponto, está com 4 tomados.

Idris percebia que um juramento fora realizado, e, não precisava de muito para saber entre quem seriam..

*Suas travessuras estão se tornando sérias pequeno Zvenn*

.. Idris continua a aninhar a pequena enquanto começa a sentir-se um pouco melhor..

"-Vamos apenas recolher algumas poucas coisas minha pequena princesa, e, logo logo nos recolheremos, veremos o sol nascer e seguiremos nosso caminho.."

Idris evitava o olhar de todos, estava machucado, preocupado com a pequena sonhadora e, acima de tudo, precisando entender um pouco mais sobre sí..

O Eshu ajudava a carregar o que fosse necessário de volta ao caminho de Prata junto com a Mixórdia.

Todos voltam ao Caminho de Prata, os cavalos continuavam amarrados onde foram colocados e o Nocker vai diretamente iniciar os trabalhos de construção da barraca.

Alice olha maravilhada para os cavalos enquanto Arianna vai acaricia-los para mostrar que estava tudo bem.

A noite já estava avançada, e até a fome começa a bater, nada grave devido ao banquete de algumas horas atrás, mas é possível senti-la. 

Além disso, o Javali se deita em algum canto, aparentemente satisfeito com as trufas que acabara de comer.

A Baronesa segue com o Javali para o caminha prateado antes dos outros. Evony não gostava de esperar por ninguém e aproveita o pouco tempo que tem sozinha com o animal e se aproxima com cuidado da quimera. Uma vaga lembrança vem na mente da Sidhe de um castelo com criaturas fantásticas e de como até mesmo a mais feroz abaixava a cabeça quando Evony passava. 

Lentamente porém com segurança a Baronesa toca a cabeça da criatura lhe fazendo carinho enquanto cantarola algumas notas com sua belíssima voz. Quando sua mixórdia chega lhe encontra ali concentrada cantando e alimentando o Javali com trufas negras. Ela continua cantando enquanto observa o Nocker trabalhar e quando ele finalmente concelui sua missão ela se despede do Javali mostrando a ele uma trufa e a guardando consigo para que ela entenda que tem que esperar para ganhar mais uma quando ela acordasse. 

A Baronesa entra logo após o Nocker e olha para a cabana. Com um sorriso doce ela toca no ombro do plebeu e o parabeniza: 

"- É um belo trabalho Ikkarus. Tenho certeza de que você será o criador de muitas maravilhas..."

*Esse Nocker me será bem útil...*

Com todo seu charme e elegância, a Baronesa de Eiluned escolhe uma das camas que lhe parece mais agradável e se senta esperando os demais para dormirem. A noite havia sido longa e a nobre estava profundamente cansada.

Idris continuava a contar histórias para a pequena sonhadora no caminho de prata, tentando sempre fazer com que a mesma não tivesse tempo de lembrar-se daquilo que a afligia, bem como para disfarçar a fome que talvez ela sentisse, pois mesmo alimentado fartamente, Idris começava a senti-la.

Quando o nocker começa seu intrincado é intrigante trabalho, o Eshu leva a pequena Alice para um local com vista privilegiada do trabalho e, ao mesmo tempo que admirava o trabalho, comenta com a pequena.

“-Veja pequena princesa, aquele é o Mestre Ikkarus, o Nocker, membro honorável da comitiva de Lady Evony, Ikkarus é capaz de construir qualquer coisa com a qual você sonhar, da mais simples a mais mirabolante criação...”

Ele deixava a informação cair, deixava que a criança sonhasse com o que mais queria...

“-Ele construiu este braço, após perdê-lo enquanto defendia.... Lady Arianna, e, tive de implora-lo para fazê-lo tão simples, pois, o mesmo queria um pouco da beleza das estrelas e o calor do próprio sol fazendo parte de sua criação.”

O Nocker continuava a trabalhar, e, estava a finalizar seu trabalho, que, por mais que o eshu se esforçasse, não aparentava ser lá o maior dos castelos.

Ele vê a baronesa entrando, e, com calma, conduz a pequena para dentro, e, tão logo adentra...

*G R A N ... F I N A L E..*

Ele se adianta a pequena, abre os braços na melhor personificação de um artista de trupe circense e diz...

“-VÊ PEQUENA? TUDO AQUILO QUE VOCÊ SONHAR....”

Ele olha com certo carinho à pequena criatura e completa..

“-Até mesmo na menor das barracas pode se esconder o mais belo dos castelos Alice, agora, faça-me um favor, escolha uma cama, deite-se e sonhe com aquilo que seu coração deseja.. amanhã, seguiremos nosso caminho e cumprirei o que lhe prometi..”

Idris aguardaria a pequena dormir, e, deitaria ao seu lado, no chão, para relembrar-se das noites bum barracão sujo, escutando os gritos de uma comunidade que sabia não ser sua, uma comunidade de humanos ruins, que uma pequena criança transformava em heróis e monstros se digladiando sob o céu noturno.. se deitaria no chão para lembrar do que era e do que já foi...

É um pouco confusa a sensação de Ikkarus quando escuta da Baronesa de que ele "será o criador de muitas maravilhas". Essa é uma das maiores estranhezas dos Kithain, ela não será o criador. Ele FOI o criador de muitas maravilhas, quantas maravilhas ele já não teria criado que agora as Brumas simplesmente apagaram da sua memória e de todos os outros? Por isso, Kithains são taxados de alienígenas, sua percepção de tempo e sequencia dos fatos é um pouco deturpada.

Arianna sorri maravilhada quando entra na barraca, ela coloca a mão no ombro de ikkarus e fala:

" - Bom trabalho, Bom trabalho."


Ela se senta na cama livre e adormece muito cansada.

Todos adormecem enquanto a fogueira aquecia, era a primeira noite de todos no Sonhar, a sensação era de dormir um pouco mais perto de casa e de uma tranquilidade incrível. Nunca, nenhum de vocês tinha tido um sono tão tranquilo assim. Era tentador deixar o mundo mortal para trás e viver apenas por ali, esquecer de tudo sobre a vida humana e apenas viver a aventura, mas havia um instinto que dizia que isso seria se entregar à loucura. Ainda assim, o corpo a qual cada um de vocês estava aprisionado sonhava em voltar para o mundo Outonal e a loucura do Bedlam viria rapidamente.

Os sonhos reconfortantes são interrompidos por um leve cheiro de queimado e um pouco de calor, Zvenn era o primeiro a perceber que havia algo estranho ali.

Era de manhã e a barraca estava em chamas.

FIM DO CAPÍTULO
OFF: Todos ganham 1 de Glamour, 1 de FDV e todos os ferimentos curados.