O Primeiro Convite

A plateia reagira de acordo, o Redcap, de acordo, Idris conseguia sentir os fios das história se juntando para dar forma a uma bela cena na tapeçaria do destino.

O Jogo começava, ele iniciaria o jogo..

*Aaa minha bela dama sorte, sabia que não abandonaria teu servo..*

A primeira tacada do Eshu é algo digno de pena, ao tentar acertar a bola branca, ele erra seu alvo, fazendo o giz da ponta do taco desenhar uma linha torta no feltro da mesa de sinuca..

*VADIA..*

Idris era um louco, mas, um louco plenamente ciente de suas próprias capacidades, e, até das adversidades poderia se tirar proveito..

Anos de fingimento e atuação fizeram com que o Eshu exarcebasse ainda mais o seu erro, dando a clara impressão de que jamais jogara sinuca, quase como se não entendesse os conceitos básicos do jogo, ou lhe faltasse a destreza necessária a meramente segurar o taco propriamente.

*Talvez esse puto fique relaxado...*

Coçando a cabeça deliberadamente com o braço esquerdo ele diz..

"-Acho que tenho de aproveitar enquanto tenho ele né... Sua vez mestre.."

OFF: 0 Sucessos no primeiro teste

Por todo o floreio do palavreado a Baronesa esperava um pouco mais de sucesso do Eshu linguarudo. Restava agora esperar a vez do Red Cap enquanta checava o estado de Arianna.

Zé-Navalha vê a jogada de Ídris, todos os Redcaps riem enquanto um deles grita para a sátiro:

" - Alana, tem pimenta aí?"

Enquanto todos caem na gargalhada, Zé-navalha parece concentrado, dá uma tacada com força, as bolas se posicionam em uma boa posição, ele toma mais um gole de cerveja e sinaliza para Ídris continuar.

OFF: 1 sucesso acumulado.

A sorte podia ser uma donzela sádica, mas, geralmente, não costumava ser cruel, não com Idris.

Mais uma tacada, dessa vez ele consegue minimamente acertar a bola, porém, sem qualquer tipo de êxito.

"-A terceira é a que conta..." - Fala ainda sustentando um sorriso.

Após mais uma tacada de Zé Navalha, que encaçapava mais uma bola, o Eshu empenha toda sua vontade em acertar a porra da bola, e, apenas esta faz com que ela se mova do lugar, evitando mais uma vez que riscasse a mesa..

O Semblante do Eshu muda visivelmente, ele não só estava com medo, mas com raiva, estava sendo humilhado na frente de uma imensa plateia para que? Para salvar uma princesinha que jamais deu a ele mais atenção do que daria a uma folha no chão.

Idris endurece o semblante, sua raiva era o mar sob a tormenta , demorava tomar forma, mas, era imprevisível e devastadora quando em seu ápice.

OFF: Após três rolagens, 02 sucessos acumulados.

A vantagem do Redcap estava cada vez mais evidente e era notória a frustração do Eshu perante a derrota clara. Os Redcaps conseguem ser ainda mais asquerosos evidenciando ainda mais o que dizem: "NINGUÉM GOSTA DE UM REDCAP."

Eles riem e zombam:

" - AH LÁ! FICOU PUTINHO! "


" - NÃO FICA NERVOSO NÃO QUE A CARNE ENDURECE!"


Zé-Navalha por sua vez, fica quieto, concentrado no jogo.

Era tarde, ele sentia em suas entranhas que era tarde, sua raiva se contorcia dentro dele.. Uma tacada, tão ridícula quanto os xingamentos daqueles Redcaps.

Zé navalha continuava implacável..

Os olhos do Eshu começam a escurecer..

Idris joga com raiva, seu sucesso é evidente, mas, apenas uma bola restava para seu oponente.. segundos depois, a mesa estava limpa e os putos o olhavam com desdém, o bar, lhe olhava com desdém, a baronesa, lhe olhava com desdém, ELE desdenharia dele próprio..

*Troquei meu braço pela honra de uma princesinha bêbada?*

O Sorriso que surge dos lábios do Eshu é maligno, seus olhos ficam completamente negros, não existia uma só estrela que brilhasse naquela constelação, e, possuído pela mais negra das determinações, Idris caminha até a mesa onde os Redcaps estavam sentados, na mesa onde os filhotes de uma puta tripudiavam sobre os cacos de sua dignidade.

Talvez pelo verme, talvez pela vergonha, talvez pela coragem, põe seu braço esquerdo sobre a mesa, de sua mão direita surge uma longa faca prateada, com entalhes e desenhos sobre sua lâmina, e, olhando para Zé-Navalha, Idris, sem hesitar um segundo, desce a lamina sobre o próprio braço, trespassando-o com a ponta, iniciaria então, tal e qual o movimento do ponteiro de um relógio, o longo processo que seria de fato decepar seu braço.

Dessa vez olhando para a pequena sidhe embriagada, enquanto continuava seu esforço, que era maior em manter a impassividade do rosto do que o de fato cortar seu braço, diz, elevando de fato sua voz e com um orgulho mórbido.

"-QUE JAMAIS SEJA DITO QUE OS PRÍNCIPES DAS ESTRADAS NÃO PAGAM SUAS DÍVIDAS!"

*Mesmo com essa escória imunda..* - Pensou Idris, percebendo que não sabia se se referia aos Redcaps ou a Arianna, o pensamento o fez começar a Gargalhar, uma risada insana, e, talvez pela proximidade de tantos Redcaps, assustadora.

OFF: Após 05 jogadas, Idris acumulou 8 sucessos. Zé Navalha, 15 sucessos ganhando o jogo. Idris obteve 04 sucessos no teste de FDV para começar a arrancar o próprio braço.

Zé-Navalha finaliza a última jogada com um sorriso nos lábios.

" - Finalmente... Garoto... Deixa eu te falar uma coisa... Assim você não vai durar muito não viu... Você não é de aço, melhor diminuir esse ritmo.."


Fazia sentido e lógica nas palavras dele... lógica até demais...


Os Redcaps se levantam em direção ao Eshu quando ele mesmo começa a cortar seu braço fora. Arianne que estava muito bêbada, ao ver a cena e tomada pela adrenalina se levanta sóbria novamente e vai até o Eshu falando baixo:

" - O que você tá fazendo Ídris? Não era pra tanto, você não tinha algum plano? Eu posso obrigar eles a desistir disso com meus poderes se a sua honra me permitir!"

A Baronesa assiste a vitória do Redcap sobre o Eshu. Idris joga bem mas o seu oponente obviamente era mais experiente. Ao fim da disputa o olhos do Eshu ficam negros e Evony pode sentir que algo mudara na cabeça do jovem changeling. 

*Idiota. Quando será que ele vai entender que honra é apenas uma ilusão?*

Ainda com a mesma expressão, o jovem Eshu faz surgir uma faca em sua mão e com movimentos rápidos começa a cortar o próprio braço fora enquanto olha para a jovem Arianna. 

*Veja só o que você fez Fiona! Acho que finalmente encontrei alguém mais louco do que você...*

É então que a Bela Adormecida levanta do seu torpor e se propõe a fazer alguma coisa. Evony apenas assiste aquela cena com um olho em direção a Edvan. 

Mantendo em seu rosto a expressão horrorizada a Baronesa começa a ficar intrigada com aquilo tudo. 

*Ao final de contas, o quanto vale a sua honra Eshu?*


Ainda prestando atenção na conversa, a Sidhe caminha até o Bar parar pegar o garoto, suas coisas e pagar a conta. Seja lá o que fosse acontecer agora, a nobre havia decidido que ela e seu protegido iriam embora o mais rápido possível.

Os olhos negros e sem foco do Eshu recaem sobre a nobre e pequenina Sidhe, o sorriso não o abandonava, mas era um sorriso maníaco, completamente diferente do sorriso quente e simpático que Idris apresentava independente das adversidades.

"-Existem mais histórias sombrias do que felizes nesse mundo pequena princesa - Corta - Nosso povo morre com suas próprias epopeias não contadas, tendo somente a lua e as estrelas como suas testemunhas - Corta - Existem assassinatos covardes e resistências desesperadas que cujas lembranças morrem nos choro dos fracos ou nos gritos daqueles heróis solitários - Corta - Tudo no mundo sofre, morre e NINGUÉM ESTA POUCO SE FODENDO, PRINCIPALMENTE AQUELES QUE NÃO CONSEGUEM APONTAR O NARIZ PRA BAIXO - Corta - Hahahahahhaha - A risada disfarçava a dor do Eshu - MAS NÃO EXISTE PREÇO QUE O MUNDO OU O SONHAR POSSA PAGAR PELA MINHA HONRA, SÓ A NOITE SEM LUAR E O CÉU SEM ESTRELAS SERIAM PALCO PARA QUE EU VIESSE A FALHAR COM MINHA PALAVRA!"

Com um puxão, o braço se solta, e, ante a visão de seu braço decepado o Eshu cambaleia mas se sustenta.

*Não na frente de uma plateia..*

O semblante maníaco abandona Idris, ele pensa no Nocker, ele o trouxera para uma aventura, mas, talvez o tivesse enterrado ainda mais em sí mesmo..

"-Desculpe-me Jovem Ikkarus..." - Fala com um aceno de cabeça ao Albino.


Ainda cambaleante, o Wylder caminha até aquela que fora apontada como a dona do Bar e diz..

"-Poderia me ceder um pano para que eu pare de sangrar sobre seu chão?"

Idris sentia os efeitos da perda de Sague e da adrenalina o abandonando, sabia estar ficando pálido, tão pálido quanto um negro podia ficar..

*Será que eu ficarei como ele?* - E pensa em sorrir enquanto olha para Ikkarus, mas, sua boca não mais lhe respondia..

A cena era caótica e o Eshu dava um show diante de todos. O sangue espirrava para todos os lados e diante da fala do Eshu, Arianne pega na mão que estava enfiando a faca, olha em seus olhos e diz:

" - Morte antes da desonra."


E o ajuda a fazer o movimento que finaliza o corte no braço decepado. 


O Eshu corre para o balcão e Arianne o acompanha. Ao pedir um pano para Alana, Arianne o interrompe e diz:

" - Tenho uma ideia melhor, mas vai doer ainda mais."


Ela coloca sua mão perto do resto de braço do Ídris e faz aparece seu sabre em chamas que queima diretamente sua ferida. A dor é intensa mas estanca o sangue que jorrava.

A maldita princesa parecia ter achado seu juízo novamente...

*Sera que teria morrido ou beijado o aborto princesa?*



Ao começar a se perder em sua mente, a voz da pequena, que outrora fora bela, agora era mais irritante, propõe a idris uma saída mais rápida, o Eshu meramente da de ombros, nada doía mais que a vergonha à frente da plateia.

A dor é rápida, ainda assim, quase o derruba para a inconsiencia novamente.

Resignado, o Wylder novamente se dirige para Alana.

“-Desculpe mais uma vez a confusão Srta. Alana, minha intenção jamais fora está, o bode continuara sendo um ótimo estabelecimento em minha boca, sua sobrinha, continuara adorável, e, um dia voltarei para conhecer a areia do deserto onde guarda seus vermes, mas, se me permite, pegarei meu amigo, pagarei minha conta e as deixarei por esta noite.”


*Onde está o jovem Ikkarus..*


O Eshu não conhecia o choque até aquele momento, mas, iria flutuar nele até voltar a sua normalidade.

Os Redcaps começavam a comer sem cerimônias a comer a iguaria, Zé-Navalha grita para Alana:

" - Alana, vê 4 da sua melhor bebida aí! Isso aqui pede uma comemoração! E esquece essa porra de piada que nem precisa mais!"


Alana começa a preparar as bebidas, ela parecia tranquila com a cena, talvez não fosse a primeira vez que aquilo acontecesse no Bode, ela responde à Ídris:


" - Areia do deserto? Que que você ia querer com Areia do deserto? Se é isso que você queria era só pedir que eu te vendia.. Mas hoje você fez minha noite.. esses aí vão beber até cair e se não limparem essa bagunça vai sobrar pra eles... É a areia que você quer?"


Ela vai até uma prateleira e tira um aquário de tamanho médio, bota em cima do balcão. É possível ver alguns vermes na areia, são pequenos mas parece um mini-cenário de Duna.. eles saltam pra fora da areia de tempos em tempos. Ela pega um pote de vidro, enfia no aquário, tira um punhado da areia e entrega para Ídris:


" - Toma.. Fica por conta da casa, mas leva a Arianne daqui que ela definitivamente não sabe brincar."


Ela fala isso em voz alta olhando para Arianne, que cora de vergonha.

A Baronesa assiste toda a cena tentando conter sua expressão de horror. Quando Arianna fala sobre honra, ela repete para si mesma, em pensamento:

*Honra é uma ilusão. Honra é uma ilusão. Honra é uma ilusão.*

Mas mantendo a pose de boa moça seelie, a jovem paga a conta. Pega Edvan e seus pertences e vai até Arianna enquanto pede seu Uber e fala:

"- Vamos embora Arianna, acho que já tivemos emoção suficiente por hoje."

Ao Eshu ela apenas:

"- Sua honra me impressiona. Morte antes da desonra! Nos vemos no Baile..."

E se virando para os Redcaps e para Alana, a Baronesa se despende com uma aceno e para última, uma discreta piscadela enquanto não tem ninguém olhando. 

"- Tchau meninos..."

E juntamente com os outros Sidhe, a Baronesa fica do lado de fora do Bar esperando o Uber.

O Eshu aceita a areia que lhe era oferecida...

"-Aceitarei, mas me considerarei em dívida com à  bela senhora.. - Olhando para Fabíola - ..bem como com vossa família.."

Aproveitando-se das despedidas das Sidhes, Idris se despede de todos com um menear de cabeça, e, enquanto dirige-se à porta do banheiro para esperar Ikkarus, usa sua única mão para chamar um uber que os levariam de volta.

O nocker emerge de seu fosso metafórico e, estranhamente, se desculpa com o Eshu, a inocência daquele ser tão simples ajuda a apaziguar um pouco a negritude que era a alma de Idris naquele momento.

“-Nada a se desculpar, o único errado aqui fui eu, mas, tinha dois, e, se permanecermos juntos tempos o suficiente, tenho certeza que voltarei a tê-los..” - Fala enquanto dava um tapa nas costas de Ikkarus.

“-já chamei um Uber para nos, amanhã, irei enviar um pacote à sua casa, é o presente que dará a sua mãe e desculpará sua ausência, mandarei em seu nome como se tivesse ido pelo correio - lembrando-se do pote de areia, fala - Faça o que quiser com isso meu amigo, amanhã, não terei constelação à mostrar para demonstrar na festa..”


Ao entregar o pote de areia a Ikkarus, o Eshu já começa a se dirigir à porta, precisava dormir e esquecer aquela merda..

*Idiota..*

Todos pegam seu respectivos Ubers e voltam para casa sãos (na medida do possível). O resto dos dias continuam normais até o dia do baile.

Continua no Baile.