O Túnel Preto e Branco

O Nocker não entendia porra nenhuma! Tentava destecer as teias que anuviavam suas vistas, mas tudo ainda lhe era muito misterioso. Sua atenção acaba indo para tudo o que ocorria ao seu redor. Pepe ajudando Arianna e esquivando por pouco do pulo de uma das freiras. Arianna permanecia no combate. O Exu piruetava de maneira magistral enquanto recitava um soneto. O estouvado tentava captar todas as palavras que o filho das Estradas falava, tentando compreendê-las. Ele as termina olhando para a escuridão de onde Zvenn havia desaparecido. O Sluagh se revele e sussurra algo, mas obviamente Íkkarus não escuta pois estava deveras distante da dupla.

'- BORA, MEU POV...'

O Nocker bradava, mas algo vasculhando sua mochila chama sua atenção. Ele não tem muito tempo para notar o que ocorria. Ele havia percebido que Magdalena havia retrocedido no caminho. Ele vê um vulto desaparecer em meio ao que antes parecia ter sido sua cueca. Teria sido a Sátiro? Aparentemente sim! A jovem cabrita parecia ter um plano. Íkkarus torcia para o mesmo ser bom.

Enquanto isso, ele encarava os corpos carbonizados. Sua espinha tremia diante da cena. Esperava sair dali o mais rápido possível.

Arianna chama o grupo à ação, chamando a atenção do Sluagh e do Exu, que "fofocavam" ao canto.  Diante do rala, Idris caminha em direção a escuridão, mais precisamente em direção as toças acesas.

'- Id.... Puta que pariu, velho...'

O Nocker, então, olha para Arianna e fala:

'- Kalliope pode ir na dianteira, depois você e eu logo atrás. Pepe nos dá cobertura aérea.'

O Estouvado olha para a Troll e a Sidhe Fiona, esperando uma confirmação. Mesmo que Idris e Magdalena estivessem seguindo os seus próprios planos, o restante da Mixordia não poderia esperar, devendo agir.

Interações: Mixórdia Pés-Escuros | Charlize Lins

Logo após a fala do Nocker, a Baronesa interpõe os questionamentos de Arianna, protegendo o Sluagh. O mesmo também a responde, garantindo que o êxito da empreitada só seria alcançado se suas palavras não entregassem os deleites de teus segredos. Que segredos? O Sluagh parecia esconder algo e parecia ter mais conexão  com aquele lugar do que qualquer outro ali poderia ter. Nesse meio tempo, a atenção do Nocker estava na cavaleira azul-anil, que movimentava habilidosamente a sua espada. Havia tamanha perícia ali...

*Puta que pariu, que mulher do caralho!*

A mulher se auto-mutila, deixando verter seu sangue azulado pelas suas vestes ao mesmo tempo em que recitava um cântico de batalha. Aquele sangue espesso escorria mais e mais a cada palavra dita pelos lábios arroxeados da guerreira. Ali estava o Estouvado observando tudo. Ou ao menos tentando! Assim que acaba o cântico, o corpo da guerreira se torna um vulto azulado e ela de repente estava ao lado de uma das freiras demoníacas. A espada da Troll se enlaça no corpo dela, que é lambido pelas chamadas sobrenaturais tão logo atinge o chão, morta. O corpo inerte queimava igualmente aos outros. Nisso, mais uma freira pula sobre a guerreira Fiona. O ataque, no entanto, não se concretiza. O vulto azul anil perambula pelo cômodo e aparece ao lado da Sidhe. O corpo da freira? Partido ao meio pela lâmina de Charlize. Novamente, outra pessoa em perigo.

*Caralho, Margarita apareceu!*

O Nocker não havia percebido que Margarita agora reaparecia ao lado da pedra, a qual estava em sua mão agora. A Troll, entretanto, havia notado. Novamente avultuada, a guerreira aparece ao lado da Sátiro, partindo mais uma freira ao meio. Era um verdadeiro fatiamento ambulante bem diante dos olhos de Íkkarus, que continuava impressionado.

Ele desperta com os gritos da Troll. Ela mandava o grupo debandar. O Nocker apenas comenta para os que estava ali com ele:

'- Deixemos essa porcaria de discussão para depois... vocês ouviram o que a Troll falou. VAMOS!'

O Nocker assovia para Pepe e sinaliza a porta. Enquanto isso, ele corre para salvar sua vida. Esperava que os outros tivessem o mesmo tino.

A Mixórdia toda consegue furtar-se da prisão daquele lugar medonho. Lugar esse que parecia ser fruto da cabeça mirabolante do Sluagh. Íkkarus apoiava as mãos sobre o joelho, tentando captar novamente o fôlego que havia perdido naquele pequeno exercício - obviamente não tinha um histórico de atleta muito encorajador. Havia passado o Ensino Médio todinho dizendo que xadrez era esporte! O resultado estava ali.

Enquanto seu peito arfava tentando sequestrar todo o oxigênio que podia, ele observa os últimos integrantes da Pés-Escuros atravessarem a porta. Um deles era Margarita e...

'- QUE?'

As palavras do Nocker se perdem em meio a sua língua escarniosa. Margarita vinha, em chamas, segurando algo... ou melhor, alguém!  Quando a mesma atravessa e rola no chão, o corpo pequeno se projeta para o outro lado, rolando um pouco distante do grupo. Eis que a criança, que ainda parecia viver, começa a se arrastar na direção deles. A medida que a mesma se aproximava, o Estouvado notava semelhanças em suas feições.

Ele rapidamente olha para o Sluagh, provavelmente escondido em alguma escuridão imunda que encontrasse ali.

*Esse lugar realmente é fruta da cabeça dele... Caralho! Que porra de cabeça é essa, maluco?*

A Baronesa se coloca ao lado do seu Servo, como se desse algum tipo de apoio ao mesmo. Distante, mesmo assim, ela não ousaria tocar criatura tão abaixo de sua estirpe obviamente. Assim a grande maioria dos Nobres eram. Ela então, como se não tivessem acabado de ver um Zvenn em miniatura em chamas, volta a falar, questionando algo a Idris.

*Puta que pariu! Que lugar é esse?*

O Nocker finalmente percebe que não estavam na mesma sala de antes. Sua atenção havia se voltado totalmente para a cena macabra protagonizada por Margarita e a criança. Agora, ali, ele dá uma boa observada no grande salão com o chão em brasas. Ela queria que ele fizesse a pedra pular até ali. A pedra que parecia ser a segunda peça de todo aquele quebra-cabeças. O Exu diz que não, porém, o mesmo começa a se movimentar em direção a pedra:

'- QUE...?'

O Estouvado repete sua indignação, diante do ocorrido. O Exu rumava em direção a pedra, seus pés sobre a brasa, sem dar sequer um pio. Sua face não movia um músculo em reclamação. Íkkarus fareja o ar, sentindo um cheiro diferente. Era forte. Era Glamour.

'- O que diabos ele está fazendo?'

Dessa vez, o Nocker fala para si mesmo. Observava atentamente cada passo dado pelo companheiro, observando atentamente cada passo dado pelo menos.

Íkkarus observava o caminhar do Exu, percebendo que a Sátiro tentava acompanhar-lhe na trilha ardente. Arianna, porém, a impede, segurando seu braço e pedindo tempo ao Caminhante das Estradas. Idris era uma mente caótica, mas brilhante ao mesmo tempo. Apesar das ações suicidas que ele já havia presenciado, o Exu ainda estava ali.

*Espero que realmente seja um BOM plano...*

Esperava que não ocorresse novamente o que ocorreu na batalha da estrada.

Idris se aproxima da redoma flutuante e parece segredar-lhe algo. Era impossível ouvir os melindres do Caminhante das Estrada, mas era possível ver que a redoma que guardava tão solenemente a segunda pedra lhe abre passagem.

*O filho da puta é bom mesmo!*

Abatido, o Exu faz sua romaria de retorno, visivelmente debilitado. O fogo havia cobra seu preço, o pedágio por passar por seus caminhos. Idris havia pagado a fiança com seu vigor. Estava praticamente abatido, restando apenas um fio de vida para contar algum história. E que história, meus amigos! Idris Bancole, o Caminhante das Estradas e Amigo do Fogo; Aquele que faz as brasas pularem e que caminha sobre as mesmas. O jovem Exu criava sua história da forma que lhe cabia: no caos. Diferente do Nocker, que apreciava um plano bem orquestrado, executado fielmente do primeiro ao último soneto, o Exu preferia a liberdade de suas ideias.

Havia um meio de certo de agir? Provavelmente não. Entretanto, cada modo havia eu preço. O Exu acabava de pagar o seu. 

Em seu retorno, o jovem companheiro se prostra diante de Arianna e Margarita, entregando à dupla a pedra rubra. A Sátiro se torna a fortaleza que Idris precisavam, sustentando por um breve instante o pessoa do incapacitado héroi. Ela o ajeita em seu colo, oferecendo aquilo que parecia ser água. Oferecia de maneira solene, como se aquele fosse seu bem mais precioso. Naquele instante, era o que o Exu mais precisava.

Uma sombra brota em meio ao casal. Era Kalliope que se aproximava da dupla, oferecendo sua força para levar o Exu pelo caminho. A guerreira, com seus 3,5 metros de altura, tinha a força necessária para laçar um touro, derrubar uma mansão de mármore... e levar em seu colo um aliado ferido. Assim, a cavaleira o faz, carregando a Idris como se o mesmo nada pesasse. Evony, no entanto, alerta a todos que precisariam dos braços da Troll para outra coisa.

Levar um corpo seria um desperdício da força bruta que Kalliope poderia empreender sobre os inimigos da Mixórdia. A Baronesa estava certa. 

Assim, ela invoca o Porco... Era um Javali, claro, mas ela insistia em chamá-lo de Porco. Biologia não deveria ser o forte da Baronesa, mas aquilo pouco importava naquele momento. A Sidhe pede que Íkkarus ajude o Porco com o companheiro ferido, e ele concorda, se colocando ao lado do javali. Ele faz um sinal e Pepe, que sobrevoava ao seu lado, o acompanha. Nenhum mal chegaria ao Exu.

'- Vai ficar tudo bem, meu amigo... Vamos sair daqui e cuidaremos de suas feridas...'

Evony então se coloca como guardiã das pedras, estendendo a mão para que a Sátiro lhe desse os achados da Mixórdia. Com a mão estendida, o ambiente parece vibrar, o vermelho do fogo começa a tomar outras cores. Tudo mudava. A sala dá lugar a um galpão enorme, com fornalhas incandescentes e várias coisas espalhadas por todos os lados. Não apenas coisas.

'- Fantasmas...'

O Nocker sussurra, notando que os novos inimigos não haviam notado a presença da Mixórdia. Ainda. Ele olha pro restante do grupo e esperava a linha de frente agir.