Pegadas derretidas na Areia

Ainda atormentado após os acontecimentos no mundo outonal, e, ainda tendo em seu peito uma corrente flamejante que o ligava à um juramento de amor, Idris sentia-se pela primeira vez atado, seu espírito livre revoltava-se contra estas amarras.. em pouco tempo ele tinha dispendido uma quantidade anormal de juras, e, estas promessas é que mantinham o mundo em ordem, mas..

*O que é hoje a ordem?*

.. ainda perdido em seus pensamentos, Idris retornar ao Freehold da Tripla Espiral.

Lá chegando, sabe que nada de bom advirá de uma jornada imediata enquanto tão cansado estava, então, pega quaisquer almofadas que consegue encontrar, dispensa um pouco de alimento à Paka, aninha-se com este junto a enorme fornalha de Glamour, e, recordando-se apenas instintivamente do que esquecera, dorme.

Tão logo levanta-se, Idris tinha se decidido, ele iria começar um incêndio no meio do inverno e o faria porque eles podiam.

Dirigindo-se ao painel de controle, ele abre a passagem para Tar'Anar..

"-Vamos Paka...Hoje deixaremos nossas geladas pegadas derretidas no deserto como uma lembrança efêmera do que irá ecoar pela eternidade.."

Desde que havia voltado para o mundo Outonal do Sonhar Distante, Ídris escutava um leve som em sua cabeça. Porém nem tinha reparado, apenas agora que diminuía um pouco o ritmo conseguia perceber.

Era uma música distante e baixinha, mas que de alguma forma o atraía. A música tinha apenas percussão, escutava ao longe o som parecido com tambores de uma forma repetitiva e quase hipnótica. Porém, não sabia muito o que fazer com aquilo, não no momento pelo menos.

Paka passa entre as pernas do Eshu como os gatos costumam fazer.

O Freehold não era tão fácil de controlar, era necessário mexer e ajustar os botões, alavancas e manivelas certas, no momento correto para ir até Tara'Nar.




OFF: Ídris precisa de pelo menos 1 sucesso no teste de Int + Ofícios dificuldade 6 para ir para Tara'Nar.

Idris escutava no fundo de sua mente um ritmo que para todos era apenas ritmo, mas para ele, música.

*Ola...*

.. distraidamente, ele se deixava levar pela percussão sem mesmo se tornar consciente que não tinha os conhecimentos necessários para operar o painel central se seu Freehold, e, mas, como todo Eshu, todo passo é um caminho, e, apertando botões e puxando alavancas como se quisesse ele próprio complementar sua canção pessoal, ele ativa o portal.

OFF: Idris obteve um sucesso no teste de ofícios.

Enquanto Ídris movimenta os botões e manivelas corretas, luzes se acendem com um alto barulho. Por fim, parecia ter chegado em algum lugar e o Eshu consegue ver pelas frestas da porta de saída do Freehold uma forte luz branca. As batidas pareciam um pouco mais altas em sua cabeça.

Ao passar pela porta, Ídris vê apenas uma forte névoa e ao entrar saberia que estaria perdido se não fosse um Eshu. Segue então o caminho de seu coração por um tempo até que vê ao longe o pico de algumas torres que sabia ser Tara'Nar. Ali naquelas névoas a música não estava mais apenas em sua cabeça e sim no ambiente, ainda baixa e distante, mas agora efetivamente a escutava e o convidava. Porém, percebia que a música vinha de uma direção diferente das torres da cidade e sabia que ali estava em uma encruzilhada onde tinha que decidir.

Poderia seguir para Tara'Nar ou poderia seguir a música que tocava.

Era indescritível a sensação de se estar perdido e não ao mesmo tempo, porém, para a felicidade efêmera do Eshu, aquele sentimento era em geral concedido e retirado pelas brumas.

*O que será que Paka sente?*

.. não existia passagem igual e tampouco os pensamentos de Idris eram previsíveis, e, tão logo poe seus pés na areia ele sente um pouco do frio que o inverno instaurara em sua alma se dissipar.

*Que dia adorável para caminhar no rastro dos juramentos..*

Após inspirar longamente, o Viajante olha para as distantes Torres de Tar’Anar e, naquele momento As majestosas e belas Torres parecem “desinteressantes”, posto que os pés do Eshu, antes mesmo de sua mente se decidir, já caminhavam em outra direção.

“-Um dia você há de me guiar Pequeno Paka, mas, por enquanto, venha comigo..”

E então Idris segue em direção à música que já fora a música no silêncio particular de Idris!

Pakas, o gato de Ídris, então segue um pouco mais a frente na direção que Ídris ia, o Eshu nota que pegadas prateadas ficavam marcadas por onde o gato passava, em um certo ponto Pakas acelera os passos e desaparece da vista no meio das brumas, deixando apenas as marcas no chão.

O som e os tambores iam aumentando até que as brumas começam a diminuir e Ídris vê uma casa bem simples, ele sentia que a casa estava tanto naquele lugar do Sonhar Profundo quanto no Mundo Outonal, algo que geralmente apenas Freeholds costumam fazer. A música saía dali de dentro e parecia chamá-lo.



Na porta Ídris percebe então algo inusitado. Do lado de fora de casa, parado como um guardião.



Pakas passava sem cerimônias pelas pernas do homem que tinha uma longa capa preta, um tridente em uma das mãos e emitia uma realeza que Ídris ainda não tinha visto em nenhum dos Sidhe. Ele estava parado e não falava uma palavra, mas era possível notar que ele estava pronto para proteger aquele lugar.

Uma palavra vinha à mente de Ídris, mais como uma lembrança de tempos muito distantes:  "Laroiê"

Ao observar despreocupadamente Paka vagar pelas brumas, pois aquele gato jamais estaria perdido, Idris continuava a caminhar embalado pelos rítmicos sons dos tambores, e, antes que se desse conta, esta de frente com o que acreditava ser um Frehoold..



*Paz...*


.. Ele inspira longamente o ficto cheiro de café que aquele lugar exalava antes de se ver diante de um Guardião, inusitado, e, acima de tudo Régio guardião..



*Quem serás tu?*

"-Laroiê Nobre Guardião, me chamo Idris, o Viajante, e, não desejo mal algum à este Freehold, que meu nome seja maldito por três vezes por cada ponta de seu tridente e meu destino mais negro que tua capa se eu estiver a mentir... - Ele então continua - .. este o qual agora entrança-se por tuas pernas é meu protegido, Paka, o último gato da Areia, e, se me permitires, pergunto-lhe, qual teu nome e que local é este que guardas.."

Os olhos do homem eram profundos e a caveira em seu rosto se misturava com sua pele e ele exalava um forte cheiro de cravo. Seu olhar era de difícil compreensão, tinha uma certa malícia e ao mesmo algum tipo de sabedoria.

Ele então responde com uma voz profunda e ancestral:

" - Laroyê Peregrino! Se vier para o mal, eu me encarrego de amaldiçoar três vezes na ponta do meu tridente e te arrasto para baixo da terra com a minha Capa. Eu tenho mais nomes do que pode contar e ando junto com a minha legião de 49. Somos parentes apesar de você ter o privilégio de cavalgar livremente. As primeiras oferendas são sempre minhas e você vem até mim de mãos vazias pedindo informações? "

Com um olhar malicioso e quase brincalhão, ele continua:

" - Desse jeito não vamos longe.. Um malandro de verdade sempre traz algo quando visita a casa de alguém."

Idris assistia aquela entidade e, a parte de sua mente que compreendia as criaturas e pessoas assimilavam rapidamente a personalidade, pelo menos a que falava naquele momento, daquele ser, o restante, era a ancestralidade do Eshu que locupletava as informações que faltavam..

"-Huuuuum Mizifio.. e cê acha que eu, que ando tanto por ai, ia ser trouxa de não ter um presente na manga pra quem de presente merece ser dono? - Ele sorri um sorriso cheio de dentes - .. Eu te daria um dente se tu não tivesses tantos, mas, pra quem tem os dois pés no chão como tu, eu ofereço uma chancezinha de escapar pros céus.. - E, com uma teatralidade ensaiada, Idris faz uma reverência, puxando seu cordão com a pena de pingente engatada nela, estendendo-a na direção da entidade - .. Aceite este presente deste caminhante, sabendo que o cordão serve apenas para abrilhantar os olhos.. - ele sorri para o Caveira dizendo - .. não que os seus precisem de mais brilho meu senhor.."

O homem dá um sorriso malicioso e pega a pena. Ele olha e diz:

" - Eu gosto das coisas da terra. Isso não dá pra beber nem fumar, mas por enquanto me serve apesar de já ter dado isso de presente antes para outros. Tudo bem, não sou ciumento. E não precisa vir com conversa mole pra cima de mim, não preciso de elogios, mas gosto, como qualquer um!"

Ele então complementa:

" - Essa é uma casa de invocação. Ela está ao mesmo tempo no plano terreno e no caminho de Aruanda. Vocês chamam esse caminho de Sonhar Próximo. Aqui, esses humanos tem uma crença tão forte que a linha entre os dois planos praticamente não existe. E se você tá aqui é porque ouviu o chamado, agora entra que seu ponto já vai começar. Mas se prepara porque aqui o Axé é diferente do Axé de vocês."

Idris olha as reações do caveira e, maliciosamente da um sorriso de um criatura antiga e sabia que um dia já fora e responde..

“-Olha, se juntar mais umas 3 até que dá pra fumar, mas, prometo voltar do lado outonal e lhe garantir uma oferenda que lhe dure 3 dias mais um de bebida e fumo...”

Ele assente com a cabeça ante ao convite e continua..

“-Pois me deixe ir indo que ir eu preciso meu amigo, até mais ver!”
E segue com o espírito cada vez mais cônscio do que deveria fazer..

O Exu responde um pouco mais animado:

" - Agora sim estamos falando a mesma língua! Entre, e na saída, se sair, venha buscar de volta sua pena. Ela é sua."

Ídris então começa a entrar na casa e quanto mais se aproxima mais alta e hipnotizante a percussão fica. Seu próprio aspecto faérico parecia tremeluzir vibrando conforme os sons. O Eshu então entra, o barulho que era quase ensurdecedor diminui assim que passa pela porta que tinha dois vasos com espadas de são jorge nele. A música agora estava lá, porém mais ao fundo como um som ambiente.

Do lado de dentro havia alguns bancos onde humanos estavam sentados e um corredor no meio que era onde Ídris se encontrava, não era possível ver os humanos de forma clara, eles pareciam borrados como se uma fina película embaçasse sua imagem. Ao fim do corredor via um grande espaço grande, ali alguns humanos em círculo tocavam tambores. Quem estava ali dentro não parecia embaçado. Havia duas mulheres entrada desse espaço. Uma vestia um vestido vermelho e tinha uma expressão de malícia no olhar. A outra usava um vestido e turbante brancos, ela transmitia paz e sorria de forma afetuosa. Elas sorriam para Ídris estendiam a mão de forma convidativa.

Idris, após ser dispensado pelo caveira, entra no átrio e, sem perceber, seus pés já começam a andar de maneira ritmada, sua imagem pulsava e o Eshu por um momento fecha os olhos, inspirando o ar ancestral de onde muitas vezes estivera.

Quando seus olhos abrem, ele se depara com ambas as mulheres, e, como se tropeçasse, ele começa a dançar no ritmo da musica, num movimento ensaiado de descontração, e, sorrindo à mulher de vermelho, começa a se aproximar em sua direção.

Mesmo sem lembrar-se destas vezes, o sentimento de pertencimento impregnava-se no Wylder,

A outra mulher de branco apenas sorri para Ídris, sem nenhum tipo de julgamento. Ali o caminho estava escolhido e não havia caminhos errados.

O Eshu vai até a mulher com o vestido de vermelho e seguindo os movimentos de forma intuitiva na dança toca na mão dela. Nesse momento, Ídris sentia estar no olho de um furacão, todo o redor era caos e barulho exceto naquele lugar, a iluminação era avermelhada e era possível notar manchas de sangue no chão. Ídris se sentia leve, seu corpo mortal simplesmente não existia mais. Era apenas espírito novamente, vê à frente como um farol um homem que parecia esperar por ele e Ídris instintivamente faz o expediente Changeling nele entrando em seu corpo. Nesse momento,  é possível notar que todos exceto uma pessoa, se ajoelham para Ídris.

Quem não se ajoelha é a mulher que deu a mão para Ídris, ela dá uma risada alta e escandalosa que ecoa pelo lugar, ela agora era uma mistura de beleza dos Sidhe com a sensualidade dos Sátiros. Com uma taça de vinho em uma mão e um cigarro na outra, ela vai até Ídris e dá um abraço caloroso e acolhedor como se reencontrasse um amigo que não via há anos. Ela pergunta:

" - Mas que porra você tá fazendo aqui? Achei que nunca mais ia ver sua cara feia! "

Ídris se lembrava de tudo, assim como ele, ela era um mero reflexo do que já foi um dia. Se lembrava de em outras terras terem lutado, bebido e amado juntos. Se lembra da fartura e como tudo foi arrancado deles e como caíram de reinos ricos para escravos. Ali se sentia em casa, mas sabia que não era sua casa, porque sua casa havia sido saqueada e estuprada por tantos que já nem se lembrava mais.

O Eshu sentia sede e um jovem entrega uma garrafa para ele, ali tinha cachaça e aquilo descia como água gelada em sua garganta.

OFF: Ídris está com Remembrance 5 até o fim da cena.

Ao tocar a mulher, Idris, como apenas uma vez na vida, VOA, voa das amarras mortais e é conduzido por um vórtex de lembranças pela mulher de vermelho..

*SIM..*

.. uma sede de tudo se apodera dele, uma sede de poder, uma sede de carne, de luxúria, de esbórnia...

*HAHAHAAHHAAHAAHA..*

.. uma risada insana se apodera de sua mente enquanto ele incorpora no mortal, sentindo o sangue pulsar para todos os lugares, reagindo ao toque da mulher.. a garrafa em sua mão era gelada e ajuda a refrear a fúria que sentia arder no peito, eles eram Reis e foram esquecidos, enfraquecidos e subjugados...

*NAO MAIS!

... naquele momento Idris se lembrava de tudo, e, naquele momento sua fúria pulsava como se fosse algo vivo, mas, ao invés de levá-lo à violência, que é sabidamente o último recurso do ignorante, lhe levava ao impulso imparáveis, e, para um Eshu, o impulso é a vida em sua totalidade.

Dando uma sonora goleada já cachaça diz..

“-PUTA QUE ME PARIU, SE EU NÃO PODER, CUMÊ, CAGÁ, BEBÊ E FUMÁ.. PRA QUE SERVE VIVER MESMO? HAHAHAHAHAAHHA”

E da um safado e afetuoso sorriso à segunda entidade de quem agora se lembrava..

“-E tu acha que ia me achar no mesmo canto? Eu tô por aí meu amor, fazendo e acontecendo.. - ele pare, olha pra ela e conclui - e você, linda e gostosa como sempre, tá pronta pra entrar em outra briga?”

Ela sorri com o gracejo e responde:

" - Sutil como sempre! O que que você tá armando agora? É pra fazer cair piru de homem safado? Se for motivo justo e o demandante tiver seu valor, minha faca tá sempre pronta. Mas quem decide isso não sou eu não, é o homi ali ó. Uma parte dele tá la fora tomando conta, mas a outra tá aqui. Você quis vir por aqui, agora segura porque ele não é preto-velho e não tá aqui pra brincadeira não."

Ídris olha então para um homem que estava sentado em uma cadeira, ele tinha uma capa preta e seus aspecto era semelhante ao homem com quem havia conversado do lado de fora, mas agora ele não possuía um rosto de caveira. Ele fumava um charuto e ajoelhada em frente à ele estava uma mulher. Ele passava a mão acima da cabeça da mulher e Ídris via o Glamour fluir dela. O Eshu sabia que diferentemente do que a mulher acreditava o poder não estava exatamente no homem, mas ela mesmo que produzia aquela quantidade de Glamour pela mera crença.

Idris da uma sonora gargalhada quando a mulher começa a falar, e, quando sua atenção é atraída/apontada ao homem, este fica um tanto menos descontraído, mas, mantendo a informalidade, se aproxima do mesmo e diz:

“-Laroiê Laroiê meu amigo, se quiser um trago de minha cachaça tem aqui seu quinhão e meu nome lhe dou de graça, sou Idris e minha lenda todo mundo já conhece, mas, se me permitido for meu amigo, quem é você, já que sei que manda aqui!”

A mulher então se retira e ele faz um movimento com a mão para que Ídris se sentasse à sua frente. Ele pega a cachaça, bebe e fala, sua voz era rouca:

" - Aqui sou chamado de Exu Gira-Mundo. É raro ver um dos seus aqui, meu irmão. Hoje sou eu quem manda aqui sim, como posso ajudar?"

Ele se recosta na cadeira e apoia a mão dentro da calça de forma relaxada.

Idris escutava as palavras daquele ser e a certeza de que seus pés sempre caminhavam para onde deviam se reforça dentro dele..

*E seguindo nossas pregadas outonais o povo sobreviveu...*

.. as palavras eram próprias, pois idris não acreditava que aquela vida pela metade era vida, era apenas sobreviver, mas, aquilo haveria de mudar, o povo precisava novamente de guias, e, seu povo novamente não iria lhes faltar..

O nome do exu era, no mínimo, providencial.

“-Fipame Filame grande Oluaiye, mas, pela pomba branca de uma rapariga, como eu queria um trago pra ter essa conversa meu rei, o que eu quero é o que nosso povo precisa, o inverno está nos ameaçando e não são os Sidhe que irão liderar nosso povo para longe do frio..”

Ele olha profundamente para Ídris, a sensação é que ele olhava dentro da sua alma. Depois de um certo silêncio ele responde:

" - E porque você tem a pretensão de achar que sabe o que o nosso povo precisa? Você vem, com essa fala mansa, trazendo mensagens ditas pelos ditos nobres que você preza? Quem disse que a ameaça é o Inverno?"

Ele se ajeita na cadeira e olha nos olhos de Ídris e fala:

" - E porque você se acha digno de alguma forma com o peso de tantas dívidas em você?"

O olhar do Exu-Vira-mundo era profundo e parecia transpassar sua alma, e, suas palavras, igualmente pesadas, mas Idris agora se lembrava de tudo que sempre soube ser.

Ele dá mais uma golada na gélida aguardente, solta um pigarro e diz..

"-Eu sei que nosso povo precisa de liderança, e, não prezo nenhum nobre, apenas uma à quem devo meu amor e resgate..."

Ele encarava seu primo com igual intensidade com seus olhos de constelação..

"-Eu não tenho pretensões meu Primo, eu tenho a certeza de que nosso povo é um povo que não se acovarda, e, lhe digo, o Inverno ameaça! Não falo pela boca desgraçada de um nobre que nunca sentiu a areia sob os pés ou nunca foi amigo da poeira que trazia na roupa, eu falo como quem testemunhou o ferro frio ser usado de maneira idiota contra nosso povo! Falo como quem viu o desejo de parar de sonhar vindo daquele que mais poderia inspirar.."

Ele para, olha novamente no fundo dos olhos de seu primo, por um breve momento a confusão passa pelos olhos do Eshu e ele diz..

"-Eu falo como um amigo do fogo que fala para um amigo do fogo.."


Outro gole vem, dessa vez menor, e, ainda com os vapores do álcool na boca, Idris começa a falar numa meia risada meio engasgo..

"-Você acha que minhas dividas são um peso em minhas costas? Que elas me imobilizam em insignificância? Pois saiba tu Primo, que eu sou abençoado por Atlas que leva o mundo nas costas, saiba Primo, que esse peso é apenas o peso guia que me leva às profundezas de minhas responsabilidades, e, por minha mão, Desdemona, minha Amada Desdemona irá cair, saiba Primo, que essa mesma mão desposará a de Lady Arianna de Fiona e Saiba Primo, que por minhas pegadas, o ultimo gato de Areia irá encontrar seu caminho!"

Idris era um Rei, mas sabia que falava com outro, logo, havia respeito em sua voz, mas também a profunda austeridade daqueles acostumados ao peso da coroa.

Ele escuta atentamente as palavras de Ídris, enquanto fumava seu charuto. Ele chama com as mãos uma menina de branco que parecia ter a missão ali de organizar e fazer as coisas acontecerem e diz para ela:

" - Cambone, um charuto pra ele."

Ela oferece um charuto aceso mas ainda não usado para Ídris.

Ele então responde à Ídris:

" - Você diz que não preza nenhum nobre, exceto uma, mas carrega a marca de uma das Casas dele, Sir Ídris de Fiona?"

Ele então continua:

" - Eu não tô aqui pra julgar, meu papel é outro. Eu tô aqui pra fazer você ver um outro lado. Você fala palavras e palavras. Você vai fazer, vai fazer. Mas esse caminho que você escolheu é um caminho de justiça rápida. Sou Exu Gira-Mundo, represento Xangô, um dos que os Europeus chamam de Tuatha de Danaan e por isso não entro numa batalha sem a certeza de que meu inimigo mereça meu golpe rápido e fatal. Lembre-se, se você pedir justiça, você terá a justiça, e ela pode não ser exatamente o que você espera."

Ele então sorri, como se tivesse tido uma ideia e finaliza:

" - Se você aceitar pagar o preço de uma das tantas promessas feitas, aqui mesmo, eu te dou minha palavra que você terá sua justiça. Eu escolho qual dívida."

Idris recebe o charuto com felicidade, afinal, as cortesias eram comuns entre os Obas.

Enquanto tragava e baforava ele escutava as palavras do primo.

De fato, Idris falava mas, a inegável demora começava a lhe incomodar, afinal, quantos anos mais seu povo escravizado precisaria esperar para ter sua desforra?

*Porque eu deveria esperar?*

Naquele momento idris pensava que a pressa só era inimiga da perfeição pós lentos.

“-Saravá se tu num fala com esperteza e justeza meu Primo, tem razão em muito, mas, eu não sou trouxa e só nasci ontem nessa vida, eu até aceito não saber qual dívida cê vai me dar justiça, mas, o preço eu preciso saber, então diz pra mim qual é pra mói de nóis fechar um acordo bom pros dois!”

Embebido pelo rancor antigo e o desejo novo, Idris esquecia que naquela roda o lento era ele!

Ele dá uma gargalhada e fala:

" - Agora parece que a coisa ficou mais séria né Sir Ídris de Fiona? Você vai lembrar da vida de outra pessoa que sofreu com sua inércia como se fosse a sua. Assim, talvez Xangô te ensine que não existe justiça de amanhã, apenas a justiça de hoje."

Ele estende a mão.

Idris escutava as palavras do Gira-mundo, enquanto fumava.

Ainda com a fumaça na boca ele toma um gole de cana, que naquele momento parecia não mais gélida, mas, acentuando a característica ardente da bebida.

Com fumaça nos pulmões e ardência na boca ele estende a mão e aperta a mão de seu primo.